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MUDAR O TRATAMENTO DA ÁGUA

Estações atuais não conseguem tratar resíduos não metabolizados pelo nosso organismo

Mais de um bilhão de pessoas não tem acesso à água limpa para beber, e mais de dois bilhões vivem sem saneamento adequado, o que leva à morte, todo ano, mais de cinco milhões de pessoas, por doenças evitáveis transmitidas pela água. Apenas 8% do fornecimento de água doce do planeta vão para uso doméstico; certa de 70% é usada para irrigação e 22% na indústria.

O que é necessário é um manejo integrado de recursos hídricos que leve em consideração quem precisa de que tipo de água, assim como onde e como usá-la mais eficientemente. “A água vai se tornar rapidamente um fator limitante em nossas vidas”, afirmou Ralph Eberts, vice-presidente executivo da Black & Veatch, empresa de engenharia de US$ 2,3 bilhões que projeta sistemas hídricos e opera em mais de 100 países.

Eberts declarou que vê uma “redefinição de prioridades” dos recursos para enfrentar os desafios hídricos impostos pelas mudanças climáticas e pela crescente urbanização. A escassez de água e o estresse hídrico - que ocorre quando a demanda por água excede o fornecimento ou quando a baixa qualidade restringe o uso - já atingiram companhias de uso intensivo da água e cadeias de suprimentos na Rússia, China e no sul dos Estados Unidos.

Por outro lado, Márcia Dezotti, professora do programa de engenharia química da COOP/UFRJ, fez um alerta ainda mais urgente: desreguladores endócrinos (hormônios), fármacos e poluentes resistentes em baixa concentração na água que bebemos, causam doenças como câncer de próstata e mama, além de acelerar a puberdade em crianças e diminuir a produção de esperma nos homens. Essas substâncias naturais ou sintéticas são retiradas em parte no processo de tratamento de água, mas não são plenamente eliminadas e seguem causando danos.

“Boa parte dos antibióticos que nós tomamos é eliminado na urina. Após o tratamento da água, parte suficiente do remédio permanece na água para que as bactérias criem resistência a ele”, alerta a professora, que defende um tratamento diferenciado para as substâncias mais perigosas. “Os hábitos da sociedade mudaram. Não há como pensar o saneamento como na década de 40”.

Ouvimos constantemente notícias sobre a feminização dos peixes em vários rios pelo mundo, causados pelo uso das pílulas anticoncepcionais por milhões de mulheres, porém nem toda substância contida nas pílulas é metabolizada pelo organismo - e o que não for é excretado nas fezes e urina sendo encaminhadas às estações de tratamento de esgotos que ainda não estão preparadas para tratar estes tipos de produtos.

 

Fernando de Barros é engenheiro civil, especialista em Planejamento e Gestão Ambiental, mestre em Engenharia de Edificações e Saneamento e responsável técnico da Master Ambiental.

Fernando@masterambiental.com.br